Respirar.
O ar veleja nos pulmões
dois barcos mínimos.
Sublime manhã
- agasalhada ainda -
entre os braços da neblina.
Ela sabe nublar-se
mas só até o que ilumina.
Cavalos com sol nascendo
nos olhos.
Os bichos não imaginam o dia.
Aceitam-no
como se fosse o princípio inteiro
da beleza.
Um cheiro de café forte
foge da mesa.
Passeia aqui fora.
Purifica o ato do poema.
Tudo tão bonito se
visto de dentro.
O sofrimento é o pão exato
de reinventar-se.
E refazer o nome do próprio nome
com a fome de merecê-lo.
Deixar o celeiro da culpa.
Desocupar-se das desculpas,
arrancar-se da caudalosa dor,
com a alma suspensa no deserto,
esse oásis desabituado.
 |
Vista da Água David Burliuk - 1882-1967 |